terça-feira, 28 de abril de 2015

Relatório Geral da Prática Profissional em Psicologia do Trabalho II



A oportunidade de trabalhar na aplicação do Projeto de Intervenção junto aos acadêmicos do Curso Superior de Tecnologia em Estética e Cosmética da UTP, possibilitou às estagiárias o desenvolvimento de um olhar mais dilatado sobre a dinâmica dos grupos além de ter propiciado a familiarização com as técnicas, metodologia, uso de recursos, bem como o desenvolvimento da criatividade e disponibilidade para a escuta. Entender a realidade desses jovens, ouvi-los, compreender suas necessidades foi de extrema relevância para que as acadêmicas aprendessem muito em termos de vivência, atitudes, conhecimento, competências e habilidades durante a intervenção.
Todas as atividades foram pensadas e elaboradas pelas acadêmicas visando trabalhar as questões de integração grupal, desenvolvimento de empatia, autoestima, aceitação do outro, tolerância, respeito às diferenças, criatividade, flexibilidade, colaboração no grupo, ética na profissão, dentre outras. No entanto, pôde-se perceber a dificuldade de integração entre os participantes, suas resistências, timidez, alienação,  rivalidades e ciúmes.
Pode-se pontuar, contudo, que por serem alunos do primeiro período, que estão adentrando a Universidade, ainda não solidificaram as amizades, não estando totalmente integrado ao grupo, o que por si só já se constituía numa grande oportunidade de execução do trabalho proposto pelas estagiárias, pois que este visava justamente inserir o aluno no seu grupo, trabalhando as questões de timidez, intolerâncias, resistências, baixa autoestima, isolamento, elementos comuns em grupos que estão se formando, denotando uma imaturidade grupal.  MoscovicI (2001), fala sobre o processo de maturidade grupal, que seria a produção efetiva do grupo, quando este conquista um estado de tolerância e aceitação das diferenças individuais, o que permite a integração e o equilíbrio entre todos os seus membros. No entanto isso não foi possível nesse trabalho, num primeiro olhar as alunas não demostraram interesse em participar das atividades desenvolvidas pelas estagiárias de psicologia. Uma das razões explicadas pela aluna que participou de todos os encontros foi que algumas meninas são bem difíceis, que existe também o desejo de outras alunas fazerem um curso profissionalizante mais rápido, pois suas necessidades como de se manter monetariamente se faz urgente, por isso a necessidade de um curso de curta duração. Para as estagiárias pereceu em primeiro plano que as alunas agiram com desinteresse e fizeram pouco caso nas atividades, pois se sabia que havia conflitos entre grupos que surgiram na sala de aula, como processos por ofensas pessoais e morais e o trabalho que as estagiárias propunham era exatamente trabalhar esses conflitos.
Mas mais tarde com o decorrer das atividades e participação de algumas alunas foi sendo analisado em seus discursos que não seria somente o desinteresse das alunas, mas sim suas necessidades mais emergentes.
Nesse sentido podemos remeter nosso pensamento às necessidades de Maslow, estas necessidades são dispostas em ordem hierárquica, na base da pirâmide, encontra-se o grupo de necessidades que Maslow considera ser o mais básico dos interesses fisiológicos e de sobrevivência. Este é o nível das necessidades fisiológicas, que estimulam comportamentos caracterizados pelo verbo ter.
O segundo nível da hierarquia é constituído por uma série de necessidades de segurança. Uma vez atendidas as necessidades fisiológicas, a tendência natural do ser humano será a de manter. Na sequência, quando a segurança é obtida, surgem as necessidades de pertencer a grupos, associar-se a outras pessoas, ou seja, de se igualar. Estas necessidades são chamadas de sociais ou de associação. O passo seguinte na escala de necessidades é o da estima ou de status. Neste ponto, as necessidades de destaque, reconhecimento e admiração por parte do grupo são manifestadas. Embora as necessidades de estima sejam difíceis de ser superada, por depender de terceiros, Maslow sugere que em alguns casos elas podem ser adequadamente satisfeitas, liberando assim os indivíduos para atingir o nível mais alto da hierarquia. Quando isto ocorre, as necessidades de maximizar as potencialidades e de testar a própria capacidade farão com que as ações do indivíduo sejam dirigidas em busca do vencer. Este é o nível das necessidades mais maduras e construtivas da hierarquia de Maslow, conhecidas como necessidades de auto realização.
Sabemos que o ser humano se constitui a partir da estruturação de sua relação com o outro. Viver com o outro na delimitação de si e do mundo externo estabelece os vínculos na construção dos relacionamentos entre as pessoas.
Para Moscovici (2001), pessoas convivem e trabalham com pessoas, e reagem a essa interação: simpatizam, antipatizam, competem, colaboram, desenvolvem afetos, e é nesse processo de interação que cada um em presença do outro não fica indiferente.
Essa turma de Estética tinha uma relação de disputa com valores distorcidos mantidos pelo visual, o que ocasionava constrangimento e até mesmo desgosto ocasionando desmotivação pelo curso. Nesse sentido podemos pensar que a teoria de Maslow faz algum sentido, mas teremos que considerar outros fatores nesse caso, como a constituição do grupo e como as alunas formavam seus vínculos afetivos e trabalhavam com suas motivações.
Outro pensamento que se pode realizar é que segundo Viktor Frankl, o ser humano vive motivado, fundamentalmente, pela vontade de realizar sentido na vida; para isso, o homem deve se empenhar na realização de valores na forma de criações, vivências e atitudes. Em sua pesquisa comprovou empiricamente, quando, esteve preso em campos nazistas de concentração, que o fator decisivo para a sobrevivência não era ser forte, jovem ou inteligente. Muitas vezes um idoso sobrevivia, enquanto um jovem logo morria; várias vezes os homens mais robustos eram os primeiros a caírem em desespero, enquanto os mais franzinos aguentavam todas as provações como, foi o caso dele.
Frankl concluiu então que o fator decisivo da sobrevivência dos prisioneiros era a questão do sentido da vida. Aqueles que viam na vida algum sentido, pelo qual eles deveriam continuar existindo, possuíam uma capacidade de resistência muito maior. O que ele denominou de vontade de sentido.
Pensa-se que as alunas do curso de estética não tinham só o desinteresse como pareceu no princípio, mas como foram colocadas nos parágrafos acima, outras necessidades se faziam mais urgentes como colocam Maslow e Frankl.
Sabemos também que somos seres gregários por excelência e as relações interpessoais são vínculos de importância significativa para os seres humanos, elas revelam que uma pessoa pode influenciar atitudes e comportamentos de outras. No entanto as atitudes desrespeitosas e gerando certo desconforto nas colegas também pode ser considerado um fator desmotivacional dentro do curso de Estética.
De qualquer forma as atividades foram extremamente proveitosas e recompensadoras para as estagiarias, assim como para a aluna que permaneceu até o final. Pois durante as atividades foram surgindo situações inusitadas fazendo com que as estagiárias desenvolvessem o aprendizado, a improvisação e criatividade, qualidades essas imprescindíveis para a atuação do psicólogo em qualquer área de sua carreira. Neste caso específico, que se trata da psicologia do trabalho pode-se dizer que o profissional nessa área pode atuar individualmente, como ocorreu durante o estágio, ou em equipe multiprofissional, onde quer que se deem as relações de trabalho nas organizações sociais formais ou informais, visando a aplicação do conhecimento da Psicologia para a compreensão, intervenção e desenvolvimento das relações e dos processos intra e interpessoais, intra e intergrupais e suas articulações com as dimensões política, econômica, social e cultural. Podendo também desenvolver ações destinadas às relações de trabalho no sentido de auxiliar na produtividade e da realização pessoal dos indivíduos e grupos, intervindo na elaboração de conflitos e estimulando a criatividade na busca de melhor qualidade de vida no trabalho refletindo assim na vida pessoal do sujeito.


domingo, 5 de abril de 2015

Considerações finais do Estudo de Caso Clínico para Conclusão do Curso de Psicologia, da Universidade Tuiuti do Paraná.


A prática clínica, durante o estágio de minha formação, tornou-se um grande desafio. Diferentemente de outras profissões, em que é possível uma apropriação objetiva do que é necessário fazer para que se cumpra a tarefa, a prática clínica surgiu diante de mim como um desafio, e em certas situações como um mistério. 
Durante os atendimentos constantemente aparecia algumas dúvidas em que momentos eu como psicoterapeuta deveria me concentrar a respeito do que focar, de qual intervenção empregar a serviço da cliente e trazer tudo aquilo que aprendemos acerca do humano. Durante o estágio da clinica eu me deparei com uma série de elementos que poderiam ser objeto de intervenção. Foram coisas que a cliente falava coisas que ela me mostrava em seu corpo, coisas que ela sinaliza por meio de sua postura, gestos, entonação. Essas pistas me apontavam vias possíveis para intervir em busca de uma compreensão mais acertada a respeito do seu funcionamento geral. Mas a minha dúvida durante o atendimento eram quais dessas pistas eu deveria seguir.
Penso que na maioria das vezes, o cliente ao buscar a psicoterapia tem uma demanda, uma queixa somática, uma dificuldade no relacionamento com alguém com quem ele precisa conviver, uma perda não superada, uma dependência, uma tentativa de reajuste social, algumas limitações na forma de pensar, entre outras coisas. Sei que esses desconfortos são a primeira oportunidade para que eu como psicoterapeuta participe da dinâmica existencial do cliente e possa começar a construir um vínculo de confiança, o que não tive dificuldade alguma. O vinculo, a confiança, a empatia e a aceitação incondicional, assim como a postura ética e respeitosa com a pessoa que havia sido enviada para mim, foi de fundamental importância para que a psicoterapia obtivesse o êxito que atingiu.
Sei que minha tarefa como psicoterapeuta é propiciar ao cliente a compreensão da totalidade das circunstâncias em que está inserido, muito mais do que apenas perseguir seus porquês. Mas ainda penso estar longe de dominar toda a teoria, no entanto o que procurei sempre fazer quando estava diante da cliente era trazer o sentimento de empatia e acolhe-la de maneira incondicional para que em função de minha pouca experiência não a prejudicasse de alguma forma.
Posso dizer que de certa forma os atendimentos na clinica escola de psicologia foram um desafio sim, mas também excessivamente estimulante e gratificante, por esse motivo me sinto a vontade para agradecer a cliente que me proporcionou esse estudo e ao professor Francisco M. P. Mendes que me supervisionou.


Breve comentário sobre a Gestalt.



Frederick Perls nasceu de uma família judaica em 1893, em Berlim. Formou-se em medicina em 1920,e em 1930 casou-se com Laura Posner Perls, em função da perseguição nazista instalou-se na África do Sul, onde junto com Laura fundou o Instituto Sul-Africano de Psicanálise. Com a colaboração de Laura escreveu o livro Ego, fome e agressão, publicado em 1942, no qual faz uma reavaliação discordando da teoria psicanalítica, principalmente quanto ao papel da agressividade, que considera saudável e importante para o desenvolvimento humano, tanto para a preservação quanto para a interação com o meio.
Por volta do ano de 1940, receando o apartheid na África do Sul, muda-se com a família para os Estados Unidos, associando-se a grupos de artistas e intelectuais, surgindo daí o “grupo dos sete”, constituído por Perls e Laura, com: Isadore From, Paul Goodman, Paul Weisz, Sylvester Eastman  Elliot Shapiro, e mais tarde Ralph Hefferline, sendo esse grupo considerado por muitos como o criador da Gestalt-terapia. Gestalt é uma palavra alemã, de difícil tradução. Significa dar forma, dar uma estrutura significante. Exato seria dizer Gestaltung, palavra que indica uma ação prevista, em curso ou acabada, que implica um processo de dar forma, uma “formação”. Essa teoria é hoje praticada em contextos e com objetivos muito diferentes: em psicoterapia individual face a face, em terapia de casais, em terapia familiar, em grupos contínuos de terapia, mas também em grupos de desenvolvimento pessoal do potencial individual, assim como em instituições ou ainda em empresas do setor industrial ou comercial.
              No ano de 1951, foi lançado o livro Gestalt-terapia no qual foi utilizado o termo “gestalt-terapia” pela primeira vez, podendo ser considerado o livro mais básico dessa teoria.
Perls morreu em 14 de março de 1970 no Canadá, deixando como legado uma das mais importantes abordagens para a Psicologia. 
No Brasil a Gestalt-terapia apareceu em 1972, com Therese Tellegen, que publicou o artigo “Elementos de psicoterapia Gestaltica” e no ano seguinte trouxe Silvia Peters para um workshop de doze horas no Brasil. Nos anos de 1976 e 1977 são publicados no Brasil os primeiros livros de Gestalt Terapia: “Tornar-se Presente” e “Gestalt Terapia Explicada”.
Em 1977 surgiu o primeiro grupo de treinamento no Brasil dirigido por Walter Ribeiro e em 1981 Tellegem, Liliam Frazão, Abel Guedes e Jean Clark Juliano fundaram o centro de estudos de Gestalt de São Paulo, já em 1984 Tellegen publica o primeiro livro brasileiro de Gestalt – “Gestalt e grupos: Uma Perspectiva Sistêmica” e no ano seguinte, Jorge Ponciano Ribeiro publica “Gestalt Terapia: Refazendo um caminho”.
Hoje Gestalt-terapia é uma abordagem Humanista, Existencial e Fenomenológica, ou seja, sua visão de homem recebe influências das três filosofias citadas acima, da mesma forma a prática clínica do Gestalt terapeuta vai sendo permeada por estas filosofias.
A proposta da Gestalt-terapia é integrar a focalização da awareness (consciência) do cliente com sua maneira de entrar em contato consigo, no aqui e agora, promovendo assim o fechamento de gestalts abertas ou inacabadas, considerando o homem como um ser responsável e em constante crescimento.
O Homem tem estado em luta permanente, consigo e com os outros homens, na eterna tentativa de se firmar e de ser reconhecido como pessoa, o Humanismo -  reconhece o valor do homem, o existencialismo -  penetra nos pensamentos concretos do homem, em suas angústias e preocupações, suas emoções interiores, ânsias e satisfações, a Fenomenologia - capta a essência mesma das coisas, como ela acontece e se processa.