A oportunidade de trabalhar na
aplicação do Projeto de Intervenção junto aos acadêmicos do Curso Superior de
Tecnologia em Estética e Cosmética da UTP, possibilitou às estagiárias o
desenvolvimento de um olhar mais dilatado sobre a dinâmica dos grupos além de
ter propiciado a familiarização com as técnicas, metodologia, uso de recursos,
bem como o desenvolvimento da criatividade e disponibilidade para a escuta.
Entender a realidade desses jovens, ouvi-los, compreender suas necessidades foi
de extrema relevância para que as acadêmicas aprendessem muito em termos de
vivência, atitudes, conhecimento, competências e habilidades durante a
intervenção.
Todas as atividades foram pensadas e
elaboradas pelas acadêmicas visando trabalhar as questões de integração grupal,
desenvolvimento de empatia, autoestima, aceitação do outro, tolerância,
respeito às diferenças, criatividade, flexibilidade, colaboração no grupo,
ética na profissão, dentre outras. No entanto, pôde-se perceber a dificuldade
de integração entre os participantes, suas resistências, timidez,
alienação, rivalidades e ciúmes.
Pode-se pontuar, contudo, que por
serem alunos do primeiro período, que estão adentrando a Universidade, ainda
não solidificaram as amizades, não estando totalmente integrado ao grupo, o que
por si só já se constituía numa grande oportunidade de execução do trabalho
proposto pelas estagiárias, pois que este visava justamente inserir o aluno no
seu grupo, trabalhando as questões de timidez, intolerâncias, resistências,
baixa autoestima, isolamento, elementos comuns em grupos que estão se formando,
denotando uma imaturidade grupal.
MoscovicI (2001), fala sobre o processo de maturidade grupal, que seria
a produção efetiva do grupo, quando este conquista um estado de tolerância e
aceitação das diferenças individuais, o que permite a integração e o equilíbrio
entre todos os seus membros. No entanto isso não foi possível nesse trabalho,
num primeiro olhar as alunas não demostraram interesse em participar das
atividades desenvolvidas pelas estagiárias de psicologia. Uma das razões
explicadas pela aluna que participou de todos os encontros foi que algumas
meninas são bem difíceis, que existe também o desejo de outras alunas fazerem
um curso profissionalizante mais rápido, pois suas necessidades como de se
manter monetariamente se faz urgente, por isso a necessidade de um curso de
curta duração. Para as estagiárias pereceu em primeiro plano que as alunas agiram
com desinteresse e fizeram pouco caso nas atividades, pois se sabia que havia
conflitos entre grupos que surgiram na sala de aula, como processos por ofensas
pessoais e morais e o trabalho que as estagiárias propunham era exatamente
trabalhar esses conflitos.
Mas mais tarde com o decorrer das
atividades e participação de algumas alunas foi sendo analisado em seus
discursos que não seria somente o desinteresse das alunas, mas sim suas
necessidades mais emergentes.
Nesse sentido podemos remeter nosso
pensamento às necessidades de Maslow, estas necessidades são dispostas em ordem
hierárquica, na base da pirâmide, encontra-se o grupo de necessidades que
Maslow considera ser o mais básico dos interesses fisiológicos e de
sobrevivência. Este é o nível das necessidades fisiológicas, que estimulam
comportamentos caracterizados pelo verbo ter.
O segundo nível da hierarquia é
constituído por uma série de necessidades de segurança. Uma vez atendidas as necessidades fisiológicas, a
tendência natural do ser humano será a de manter. Na sequência, quando a segurança é obtida, surgem as
necessidades de pertencer a grupos, associar-se a outras pessoas, ou seja, de
se igualar. Estas
necessidades são chamadas de sociais ou de associação. O passo seguinte na escala de necessidades é o
da estima ou de
status. Neste ponto, as necessidades de destaque, reconhecimento e admiração
por parte do grupo são manifestadas. Embora as necessidades de estima
sejam difíceis de ser superada, por depender de terceiros, Maslow sugere que em
alguns casos elas podem ser adequadamente satisfeitas, liberando assim os
indivíduos para atingir o nível mais alto da hierarquia. Quando isto ocorre, as
necessidades de maximizar as potencialidades e de testar a própria capacidade
farão com que as ações do indivíduo sejam dirigidas em busca do vencer. Este é
o nível das necessidades mais maduras e construtivas da hierarquia de Maslow,
conhecidas como necessidades de auto
realização.
Sabemos que o ser humano se constitui
a partir da estruturação de sua relação com o outro. Viver com o outro na
delimitação de si e do mundo externo estabelece os vínculos na construção dos
relacionamentos entre as pessoas.
Para Moscovici (2001), pessoas
convivem e trabalham com pessoas, e reagem a essa interação: simpatizam,
antipatizam, competem, colaboram, desenvolvem afetos, e é nesse processo de
interação que cada um em presença do outro não fica indiferente.
Essa turma de Estética tinha uma
relação de disputa com valores distorcidos mantidos pelo visual, o que
ocasionava constrangimento e até mesmo desgosto ocasionando desmotivação pelo
curso. Nesse sentido podemos pensar que a teoria de Maslow faz algum sentido,
mas teremos que considerar outros fatores nesse caso, como a constituição do
grupo e como as alunas formavam seus vínculos afetivos e trabalhavam com suas
motivações.
Outro pensamento que se pode realizar
é que segundo Viktor Frankl, o ser humano vive motivado, fundamentalmente, pela
vontade de realizar sentido na vida; para isso, o homem deve se empenhar na
realização de valores na forma de criações, vivências e atitudes. Em sua
pesquisa comprovou empiricamente, quando, esteve preso em campos nazistas de
concentração, que o fator decisivo para a sobrevivência não era ser forte,
jovem ou inteligente. Muitas vezes um idoso sobrevivia, enquanto um jovem logo
morria; várias vezes os homens mais robustos eram os primeiros a caírem em
desespero, enquanto os mais franzinos aguentavam todas as provações como, foi o
caso dele.
Frankl concluiu então que o fator
decisivo da sobrevivência dos prisioneiros era a questão do sentido da vida.
Aqueles que viam na vida algum sentido, pelo qual eles deveriam continuar
existindo, possuíam uma capacidade de resistência muito maior. O que ele
denominou de vontade de sentido.
Pensa-se que as alunas do curso de
estética não tinham só o desinteresse como pareceu no princípio, mas como foram
colocadas nos parágrafos acima, outras necessidades se faziam mais urgentes
como colocam Maslow e Frankl.
Sabemos também que somos seres
gregários por excelência e as relações interpessoais são vínculos de
importância significativa para os seres humanos, elas revelam que uma pessoa
pode influenciar atitudes e comportamentos de outras. No entanto as atitudes
desrespeitosas e gerando certo desconforto nas colegas também pode ser
considerado um fator desmotivacional dentro do curso de Estética.
De qualquer
forma as atividades foram extremamente proveitosas e recompensadoras para as
estagiarias, assim como para a aluna que permaneceu até o final. Pois durante
as atividades foram surgindo situações inusitadas fazendo com que as
estagiárias desenvolvessem o aprendizado, a improvisação e criatividade,
qualidades essas imprescindíveis para a atuação do psicólogo em qualquer área
de sua carreira. Neste caso específico, que se trata da psicologia do trabalho
pode-se dizer que o profissional nessa área pode atuar individualmente, como ocorreu
durante o estágio, ou em equipe multiprofissional, onde quer que se deem as
relações de trabalho nas organizações sociais formais ou informais, visando a
aplicação do conhecimento da Psicologia para a compreensão, intervenção e
desenvolvimento das relações e dos processos intra e interpessoais, intra e
intergrupais e suas articulações com as dimensões política, econômica, social e
cultural. Podendo também desenvolver ações destinadas às relações de trabalho
no sentido de auxiliar na produtividade e da realização pessoal dos indivíduos
e grupos, intervindo na elaboração de conflitos e estimulando a criatividade na
busca de melhor qualidade de vida no trabalho refletindo assim na vida pessoal
do sujeito.