terça-feira, 12 de junho de 2012


O MENINO DE 21 DEDOS
LUIZ RENATO WEBER

 Gicelda Soares da Rosa
12/06/2012 
O menino de 21 dedos é uma narrativa de Luiz Renato Weber, que traz a história de ser e viver de gente simples do interior de uma cidade do Rio Grande do Sul. São apenas lembranças da infância e adolescência de um jovem que no desenrolar de sua história acaba sua adolescência em um colégio interno, prática essa muito comum naquela época.

Nesse sentido vamos fazer recortes de trechos dos capítulos relacionando com teorias de autores que falam sobre o desenvolvimento da criança e do adolescente, nessa viagem de fases, mudanças e transformações.

Weber fala sobre o abandono do sujeito enquanto criança não porque seus pais não o amassem, mas sim por que a criança não era vista como criança e sim como um miniadulto. O autor Ariès afirma na sua literatura que até o século XVII não existia uma definição específica sobre infância. As crianças eram consideradas como adultos em miniatura e não havia os cuidados específicos que encontramos hoje. A afetividade evocada pelo núcleo familiar não estava presente e a família tinha como papel transmitir os bens e o nome da linhagem.

Além disso, eram comuns crimes de infanticídio e abandono, como conta a história de Weber onde os pais levam as crianças para o internato, momento esse em que as crianças sofrem, sem serem questionadas se gostariam ou não de se separarem de seus pais e irmãos. As características da família e da educação infantil encontrada hoje só tiveram início no século XVIII, através de solicitudes da Igreja, dos administradores e moralistas. 

Assim como esse autor outros concluem que os cuidados existentes hoje com as crianças são uma novidade dos últimos três séculos. Porém, isso não significa afirmar que não existia uma atenção especial com esta fase da vida. Cada sociedade tinha uma concepção de infância e não se pode determinar uma data específica para a visão de criança enquanto ser frágil e inocente. Em todos os períodos da história, havia um momento de transição da vida infantil para a adulta.

Outros autores consideram que, a partir do século XIX, as transformações sociais levaram a uma influência de educadores, filósofos, médicos e até administradores nos critérios educacionais. As famílias tornaram-se menores na tentativa de ter um maior cuidado com os filhos.

Assim se faz necessário citar Ariès, pois ele foi um autor importante para o trabalho com a infância, pois chamou a atenção para a quebra de muitos mitos, como a ideia de criança enquanto ser puro e ingênuo. Fez com que a sociedade percebesse as ideologias instituídas enquanto construção histórica, e não algo inato.

No seu livro Weber nos traz uma história de indiferença de fome de preconceito de etnias e de abandono durante a infância e adolescência. História de um jovem que apesar de todas as suas dificuldades e misérias enfrenta as fases que o jovem precisa atravessar da infância para a adolescência.

Sabemos que a adolescência é um momento crucial na vida do sujeito e constitui a etapa decisiva de um processo de desprendimento. Este processo atravessa três momentos fundamentais que é o nascimento, o outro surge ao final do primeiro ano com a eclosão da genitalidade, a dentição, a linguagem, a posição de pé e a marcha e o último momento aparece na adolescência, outra fase de intensas mudanças não só corporais que marcam esse período, é permeada por mudanças psicológicas, ambas levando a uma nova relação do adolescente com os pais e com o mundo. Essa etapa é marcada por três tipos de luto o do corpo de criança, pela identidade infantil e pela relação com os pais da infância.

Podemos trazer aqui o capítulo sobre a “Morte”, considerando que a criança, transita nessas fases de luto subjetivo, pois na vida real as perdas muitas vezes são inevitáveis e esse jovem precisa elaborar com o tempo.

 “Esperei ela sair, levantei bem de vagarzinho, fui até o berço do bebê e toquei na mãozinha dele. Estava gelada e dura; levei um susto. Voltei correndo para cama”. (p.61)



A morte do amigo que é encontrado depois de levar um tiro no pé, afogado do rio e de seu cãozinho um dia depois encontrado e enterrado por ele e seu pai. São perdas, lutos que na vida real, não são explicada para as crianças, podendo elas mais tarde interpretar de maneira subjetiva organizando assim um ego em desenvolvimento.

A criança e o adolescente passam por um processo de evolução sexual, e Weber nos traz isso quando coloca que o menino de 21 dedos descobre que podia namorar e também ter filhos e fala para seu amigo Mingo o que havia descoberto. Como Mingo era mais velho explica ao menino que do pênis saía uma sementinha e que era entregue às namoradas que gostavam deles. Assim depois de certo tempo, nascia um bebê. Entre a atividade de caráter masturbatório e o começo do exercício o contato genital tem um caráter mais exploratório e preparatório do que uma verdadeira genitalidade procriativa, que vai acontecer somente na vida adulta, com a capacidade de assumir o papel paternal. Essa descoberta o autor traz no capitulo dos “Ciganos” onde o menino narra que:

“Fui me apaixonando e meus pensamentos pereciam muito longe; tentava dançar para alegrá-la. Aos poucos fui me encorajando e começamos a dançar livremente pelo salão e ela a segurar as pontas dos meus dedos. A música parecia não ter fim de tanto encantamento. No final ela me deu um beijo”. (p.91)



Alguns autores afirmam que tanto a criança como o adolescente possui necessidade de fantasiar isso acontece como uma das formas típicas de pensamento do adolescente.

É com certeza uma narração que agrada a todos como diz Bisognin, o livro traz uma linguagem muito simples, sem floreios como diz o gaúcho, bem próxima das crianças do interior, por conseguinte bem longe das crianças da cidade, onde a tecnologia do computador e dos brinquedos domina ou acaba com qualquer imaginação ou criatividade da infância.

A historia remete a relação das famílias com irmãos, pais cachorros, que ainda se reúnem para passear tomar banho de rio nas tardes de domingo, Fala sobre a amizade, brincadeiras, aventuras as alegrias de viver e sonhar de qualquer criança do interior, Por outro lado deixa claro as dificuldades em relação à fome, o frio o preconceito e o abandono, também sofrido por crianças do interior. É sem duvida um livro simples e apaixonante.