O menino de 21 dedos é uma
narrativa de Luiz Renato Weber, que traz a história de ser e viver de gente
simples do interior de uma cidade do Rio Grande do Sul. São apenas lembranças
da infância e adolescência de um jovem que no desenrolar de sua história acaba
sua adolescência em um colégio interno, prática essa muito comum naquela época.
Nesse sentido vamos fazer
recortes de trechos dos capítulos relacionando com teorias de autores que falam
sobre o desenvolvimento da criança e do adolescente, nessa viagem de fases,
mudanças e transformações.
Weber fala sobre o abandono
do sujeito enquanto criança não porque seus pais não o amassem, mas sim por que
a criança não era vista como criança e sim como um miniadulto. O autor Ariès afirma
na sua literatura que até o século XVII não existia uma definição específica
sobre infância. As crianças eram consideradas como adultos em miniatura e não
havia os cuidados específicos que encontramos hoje. A afetividade evocada pelo
núcleo familiar não estava presente e a família tinha como papel transmitir os
bens e o nome da linhagem.
Além disso, eram comuns
crimes de infanticídio e abandono, como conta a história de Weber onde os pais
levam as crianças para o internato, momento esse em que as crianças sofrem, sem
serem questionadas se gostariam ou não de se separarem de seus pais e irmãos.
As características da família e da educação infantil encontrada hoje só tiveram
início no século XVIII, através de solicitudes da Igreja, dos administradores e
moralistas.
Assim como esse autor outros
concluem que os cuidados existentes hoje com as crianças são uma novidade dos
últimos três séculos. Porém, isso não significa afirmar que não existia uma
atenção especial com esta fase da vida. Cada sociedade tinha uma concepção de
infância e não se pode determinar uma data específica para a visão de criança
enquanto ser frágil e inocente. Em todos os períodos da história, havia um
momento de transição da vida infantil para a adulta.
Outros autores consideram
que, a partir do século XIX, as transformações sociais levaram a uma influência
de educadores, filósofos, médicos e até administradores nos critérios
educacionais. As famílias tornaram-se menores na tentativa de ter um maior
cuidado com os filhos.
Assim se faz necessário
citar Ariès, pois ele foi um autor importante para o trabalho com a infância,
pois chamou a atenção para a quebra de muitos mitos, como a ideia de criança
enquanto ser puro e ingênuo. Fez com que a sociedade percebesse as ideologias
instituídas enquanto construção histórica, e não algo inato.
No seu livro Weber nos traz
uma história de indiferença de fome de preconceito de etnias e de abandono
durante a infância e adolescência. História de um jovem que apesar de todas as
suas dificuldades e misérias enfrenta as fases que o jovem precisa atravessar
da infância para a adolescência.
Sabemos que a adolescência é
um momento crucial na vida do sujeito e constitui a etapa decisiva de um
processo de desprendimento. Este processo atravessa três momentos fundamentais
que é o nascimento, o outro surge ao final do primeiro ano com a eclosão da
genitalidade, a dentição, a linguagem, a posição de pé e a marcha e o último momento
aparece na adolescência, outra fase de intensas mudanças não só corporais que
marcam esse período, é permeada por mudanças psicológicas, ambas levando a uma
nova relação do adolescente com os pais e com o mundo. Essa etapa é marcada por
três tipos de luto o do corpo de criança, pela identidade infantil e pela
relação com os pais da infância.
Podemos trazer aqui o
capítulo sobre a “Morte”, considerando que a criança, transita nessas fases de
luto subjetivo, pois na vida real as perdas muitas vezes são inevitáveis e esse
jovem precisa elaborar com o tempo.
“Esperei ela sair, levantei bem de vagarzinho,
fui até o berço do bebê e toquei na mãozinha dele. Estava gelada e dura; levei
um susto. Voltei correndo para cama”. (p.61)
A morte do amigo que é
encontrado depois de levar um tiro no pé, afogado do rio e de seu cãozinho um
dia depois encontrado e enterrado por ele e seu pai. São perdas, lutos que na
vida real, não são explicada para as crianças, podendo elas mais tarde interpretar
de maneira subjetiva organizando assim um ego em desenvolvimento.
A criança e o adolescente
passam por um processo de evolução sexual, e Weber nos traz isso quando coloca
que o menino de 21 dedos descobre que podia namorar e também ter filhos e fala
para seu amigo Mingo o que havia descoberto. Como Mingo era mais velho explica
ao menino que do pênis saía uma sementinha e que era entregue às namoradas que
gostavam deles. Assim depois de certo tempo, nascia um bebê. Entre a atividade
de caráter masturbatório e o começo do exercício o contato genital tem um
caráter mais exploratório e preparatório do que uma verdadeira genitalidade
procriativa, que vai acontecer somente na vida adulta, com a capacidade de
assumir o papel paternal. Essa descoberta o autor traz no capitulo dos
“Ciganos” onde o menino narra que:
“Fui me apaixonando e meus pensamentos
pereciam muito longe; tentava dançar para alegrá-la. Aos poucos fui me
encorajando e começamos a dançar livremente pelo salão e ela a segurar as
pontas dos meus dedos. A música parecia não ter fim de tanto encantamento. No
final ela me deu um beijo”. (p.91)
Alguns autores afirmam que
tanto a criança como o adolescente possui necessidade de fantasiar isso
acontece como uma das formas típicas de pensamento do adolescente.
É com certeza uma narração
que agrada a todos como diz Bisognin, o livro traz uma linguagem muito simples,
sem floreios como diz o gaúcho, bem próxima das crianças do interior, por
conseguinte bem longe das crianças da cidade, onde a tecnologia do computador e
dos brinquedos domina ou acaba com qualquer imaginação ou criatividade da
infância.
A historia remete a relação
das famílias com irmãos, pais cachorros, que ainda se reúnem para passear tomar
banho de rio nas tardes de domingo, Fala sobre a amizade, brincadeiras,
aventuras as alegrias de viver e sonhar de qualquer criança do interior, Por
outro lado deixa claro as dificuldades em relação à fome, o frio o preconceito
e o abandono, também sofrido por crianças do interior. É sem duvida um livro
simples e apaixonante.